Há muito tempo eu queria trazer aqui esta resenha. Noites Brancas foi meu primeiro contato com Dostoievski, lá em 2013, e continua sendo meu favorito do autor até hoje. Reli dez anos depois, desta vez na bela edição da Nanofágica (selo de livros de bolso da Antofágica), e me encantei novamente com sua narrativa. Hoje, finalmente, compartilho minhas percepções sobre essa obra.
SINOPSE
Poucos livros capturam com tanta delicadeza a alma de um sonhador quanto Noites Brancas. Publicado em 1848, ainda no início da carreira de Fiódor Dostoievski, este romance curto nos transporta para as noites brancas de São Petersburgo, onde o sol reluta em se pôr e as sombras parecem menos densas. No centro da narrativa, temos um protagonista sem nome, um jovem solitário que vive à margem da realidade, perdido em devaneios. Sua rotina se transforma ao conhecer Nástienka, uma jovem que também carrega suas próprias dores e esperanças. Durante algumas noites, os dois compartilham confidências, sonhos e uma conexão intensa, mas com um ar efêmero.
Dostoievski nos apresenta uma história de amor e desilusão, onde a expectativa se choca com a realidade. O enredo, aparentemente simples, esconde uma profundidade emocional imensa, refletindo os temas que o autor exploraria em suas grandes obras posteriores: a solidão humana, a necessidade de pertencimento e os abismos da alma.
A Rússia de Dostoievski e o espírito das noites brancas
Para compreender a atmosfera desse livro, é essencial olhar para o contexto em que foi escrito. Em meados do século XIX, a Rússia vivia um momento de transição. O país ainda estava sob o regime czarista, com grandes desigualdades sociais e uma crescente inquietação intelectual. Dostoievski, jovem e idealista na época, fazia parte desse cenário e começava a desenvolver a visão crítica que marcaria sua obra. Ele próprio passou por momentos de intensa solidão e crise existencial, elementos que permeiam a psique de seu protagonista.
As noites brancas do título são um fenômeno real que ocorre no norte da Rússia durante o verão, quando os dias são longos e as noites nunca se tornam completamente escuras. Esse detalhe não é apenas um pano de fundo poético, mas um símbolo poderoso dentro da narrativa. As noites sem escuridão criam um ambiente onírico, onde os personagens podem sonhar livremente – mas, como qualquer sonho, essas noites também têm um fim inevitável.
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Uma das maiores forças de Noites Brancas está na maneira como Dostoievski nos faz sentir cada emoção dos personagens. A angústia do protagonista se torna nossa. Torcemos por ele, por Nástienka, pelo desfecho que esperamos e tememos ao mesmo tempo. A escrita de Dostoievski é apaixonada, envolvente, cheia de lirismo e intensidade. Cada página é um convite para entrar nesse universo de sentimentos profundos e paisagens vívidas.
Um minuto inteiro de felicidade plena! Seria isso pouco para toda a vida de um ser humano?" p. 88
A ambientação de São Petersburgo nessas noites claras é tão bem construída que conseguimos visualizar as ruas, os canais e a brisa do verão russo. Sentimos a excitação de um primeiro amor, o medo da rejeição, a esperança ingênua e, por fim, a melancolia do despertar. O final nos deixa com aquele gostinho de quero mais, como quando acordamos de um sonho e tentamos desesperadamente voltar a dormir para terminá-lo.
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Noites Brancas é mais do que uma história de amor. É um retrato da alma humana, de sua necessidade de afeto, de suas ilusões e de seus inevitáveis despertares. Uma leitura inesquecível, que continua ressoando muito tempo depois de virarmos a última página.
ISBN: 978-65-80210-47-3
Editora: Antofágica
Nota: 5/5⭐+💗
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