Resenha: Gente Ansiosa (Fredrik Backman)

Fredrik Backman é um autor sueco contemporâneo, que mistura humor e emoção em sua escrita, criando histórias que buscam dialogar com o cotidiano e os desafios das relações humanas. Gente Ansiosa, publicado originalmente em 2019, prometia ser mais uma dessas obras que equilibram leveza e profundidade, mas, ao menos para mim, ficou aquém das expectativas.

SINOPSE

A busca por um apartamento não costuma ser uma situação de vida ou morte, mas uma visita imobiliária toma tais dimensões quando um fracassado assaltante de banco invade o apartamento e faz de reféns um grupo de desconhecidos. O grupo inclui um casal recém-aposentado que procura sem parar, casas para reformar, evitando a verdade dolorosa de que não é possível reformar o casamento. Há um um casal que, prestes a ter o primeiro filho, não concorda sobre nada. Acrescenta-se uma mulher de 87 anos que já viveu demais para temer uma ameaça à mão armada, um corretor imobiliário assustado, mas ainda disposto a vender, e um homem misterioso que se trancou no único banheiro do apartamento, e assim completamos o pior grupo de reféns do mundo. Cada personagem carrega uma vida de reclamações, mágoas, segredos e paixões prestes a transbordar. Ninguém é exatamente o que parece. E todos ― inclusive o ladrão ― estão desesperados por algum tipo de resgate. Conforme as autoridades e a imprensa cercam o prédio, os aliados relutantes revelam verdades surpreendentes e desencadeiam eventos tão inusitados que nem eles próprios são capazes de explicar.

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O enredo gira em torno de um assalto frustrado que acaba se transformado em uma situação de reféns em um apartamento. Entre os reféns, temos personagens como um casal em crise, uma mulher idosa, uma corretora de imóveis e uma mulher grávida, e na linha de frente para enfrentar a situação temos um inspetor de polícia com seu filho, também policial. O ponto central da história parece ser a exploração das ansiedades, medos e desejos dessas pessoas, mas a tentativa de aprofundamento emocional, em minha opinião,  falha em diversos aspectos.

Personagens numerosos e superficiais

Embora Backman tenha um talento natural para criar situações cômicas e momentos de reflexão, o excesso de personagens neste livro prejudicou os seus desenvolvimentos individuais. A ideia era que cada personagem trouxesse algo único para a narrativa, mas, no fim, senti que nenhum foi explorado de forma realmente convincente. As interações que deveriam parecer humanas e tocantes acabam soando artificiais e, por vezes, clichês.

Uma narrativa rasa e dispersa

O tom do livro flutua entre a comédia e o drama, mas sem encontrar um equilíbrio satisfatório. Backman também inclui um pequeno plot twist que, embora interessante em um primeiro momento, não acrescenta algo significativo à história. Pelo contrário, ele parece existir apenas para gerar uma surpresa momentânea, sem impacto real no desenrolar ou na mensagem geral do livro.

Precisamos escutar um ao outro o tempo todo. Mas não todo o tempo. Se nos escutarmos todo o tempo, há o risco de não conseguirmos nos perdoar depois."

Temas importantes, mas mal abordados

O autor toca em questões relevantes, como depressão, suicídio, sexualidade e divórcio, mas esses temas aparecem de forma superficial, quase como se fossem inseridos apenas para conferir “profundidade” à narrativa, só que sem efeito. A sensação é de que Gente Ansiosa tenta abarcar demasiados tópicos sem dar o devido espaço ou atenção a nenhum deles. Isso acaba resultando em uma história fragmentada, onde os temas ficam soltos e desconectados.

Os adictos são viciados em drogas e suas famílias são viciadas em esperança."

Frases de efeito e momentos inverossímeis

Outra questão que me incomodou bastante foi o uso excessivo de frases de efeito que pareciam estar ali apenas para impressionar. Em vez de gerar reflexão, essas passagens me pareceram forçadas e, muitas vezes, descontextualizadas. Além disso, vários momentos do livro exigem uma suspensão de descrença que ultrapassou meu limite de tolerância. Como a própria narrativa questiona em certo ponto: “Quem faria isso no meio de uma situação de reféns?”. Pois é, eu me perguntei isso diversas vezes durante a leitura.

Pontos positivos e a quem o livro pode agradar

Apesar dos problemas, Gente Ansiosa tem alguns momentos engraçados e situações que podem ressoar com leitores que estejam no início da vida adulta ou enfrentando dilemas existenciais. Talvez por isso ele seja tão popular entre leitores na casa dos 20 anos. Além disso, quem não tem tantas referências sobre debates de saúde mental pode achar o livro um pouco mais impactante. 

Quando você é criança, deseja ser adulto e decidir tudo por si mesmo, mas quando vira adulto percebe que essa é a pior parte."

☕☕☕

Gente Ansiosa foi, para mim, uma leitura decepcionante. Apesar do hype em torno do livro, achei que ele não conseguiu entregar o que prometia. A narrativa pareceu rápida e superficial, com um excesso de personagens e uma abordagem dispersa de temas importantes. Mas é sempre bom lembrar que nem toda leitura que não funcionou para mim será ruim para outra pessoa. Se você gosta de histórias leves com uma pitada de humor e não se importa com certa inverossimilhança, talvez este livro seja para você. Por outro lado, se busca uma narrativa mais profunda e coerente, pode ser interessante procurar outras obras.

Algumas pessoas acreditam que nunca ficarão livres de sua ansiedade, apenas aprenderão a suportá-la."

E você, já leu Gente Ansiosa? O que achou? Deixe seu comentário aqui no blog ou me mande uma mensagem. Vou adorar saber sua opinião!

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ISBN: 978-6555321111

Editora: Rocco

Nota: 2/5⭐