Alguns livros têm a capacidade de nos capturar pela atmosfera que criam, e Cleópatra e Frankenstein, de Coco Mellors, é um exemplo disso. Publicado em 2022, o romance retrata as complexidades dos relacionamentos contemporâneos, ambientado na pulsante Nova York. Com um olhar sobre as escolhas e os tropeços da vida adulta, a obra promete diálogos relevantes e personagens marcantes, mas, ao longo da leitura, revela algumas limitações que tornam difícil criar um vínculo mais profundo com a história. Nesta resenha vou te contar um pouco mais das minhas impressões sobre o livro.
SINOPSE
Nova York: cena artística e dilemas modernos
A história acompanha Cleo, uma jovem artista britânica em busca de sentido e estabilidade nos Estados Unidos, e Frank, um publicitário americano bem-sucedido, mais velho, que promete a Cleo não apenas um casamento, mas uma vida de conforto e possibilidades. A ambientação é vibrante: Nova York, com sua cena artística e um ritmo caótico, quase se torna um personagem próprio. Para quem, como eu, ama romances ambientados nessa cidade, especialmente quando tocam a cena artística, há uma atmosfera que inicialmente cativa.Ela estava aflita com a ideia de ser uma daquelas artistas que se preocupam mais em ser artista do que em fazer arte." p. 30
No entanto, minha conexão com o livro parou por aí. À medida que os personagens foram sendo construídos, ficou evidente que a química entre eles não era suficiente para sustentar a narrativa. Apesar do age gap — um elemento que, em outros contextos, pode trazer discussões interessantes —, o relacionamento entre Cleo e Frank parece mais baseado em conveniência e circunstância do que em uma conexão genuína.
Personagens rasos e uma constante tentativa de "chocar"
Algo que me incomodou na escrita de Mellors é a aparente tentativa de chocar o leitor. As descrições de sexo, violência e uso abusivo de drogas são abundantes e tratadas como parte do cotidiano, mas de uma forma que soa artificial. A narrativa parece sugerir que esse estilo de vida autodestrutivo é uma norma entre jovens adultos, o que não me convenceu. É difícil acreditar que pessoas mergulhadas em tanto caos pessoal possam manter empregos ou gerir negócios com funcionalidade, que é o cenário que o livro apresenta.A comparação com Sally Rooney, que vejo frequentemente associada a este livro, me parece um tanto injusta. Enquanto Rooney constrói personagens profundos, que têm conversas significativas e complexas, Mellors entrega figuras rasas, cujas ações parecem menos motivadas por suas vivências e mais por um desejo de criar uma história "impactante". No fim, a escrita perde força e originalidade.
Uma experiência que prende, mas não encanta
Apesar dessas críticas, devo reconhecer que Cleópatra e Frankenstein conseguiu me prender até o final. Há algo na vibe do livro que é cativante, talvez pela ambientação ou pela curiosidade de saber qual seria o próximo passo de alguns dos personagens. Infelizmente, esses passos nem sempre se provaram interessantes para a narrativa. O romance deixou a sensação de ser mais uma tentativa de entrar na moda das histórias de jovens modernos e problemáticos, mas sem o mesmo impacto ou relevância de outros livros do gênero.
Se você busca um romance com ares contemporâneos e aprecia ambientações urbanas, pode ser que Cleópatra e Frankenstein funcione para você. Mas, se espera diálogos profundos ou personagens memoráveis, talvez seja melhor procurar outra leitura.
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E você, já leu Cleópatra e Frankenstein? O que achou da escrita de Coco Mellors? Deixe sua opinião nos comentários!
ISBN: 978-65-5566-369-3
Editora: Astral Cultural
Nota: 3/5⭐
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