Resenha: A cor púrpura (Alice Walker)

Faz algumas semanas que quero escrever essa resenha, mas falar de "A cor púrpura" não é nada fácil. O livro me impactou muito, tanto que ainda não parei de pensar nele. Sua linguagem é simples, seu formato é fluído, mas ele é profundo, profundo de um jeito que nos marca. Hoje vou tentar reunir aqui os meus pensamentos sobre este clássico da autora americana Alice Walker. 

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SINOPSE

A cor púrpura , ambientado no Sul dos Estados Unidos, entre os anos 1900 e 1940, conta a história de Celie, mulher negra, pobre e semianalfabeta. Brutalizada desde a infância, a jovem foi estuprada pelo padrasto e forçada a se casar com Albert, um viúvo violento, pai de quatro filhos, que enxergava a esposa como uma serviçal e fazia dos sofrimentos físicos e morais sua rotina.
Durante trinta anos, Celie escreve cartas para Deus e para a irmã Nettie, missionária na África. Os textos têm uma linguagem peculiar, que assume cadência e ritmo próprios à medida que Celie cresce e passa a reunir experiências, amores e amigos. Entre eles está a inesquecível Shug Avery, cantora de jazz e amante de Albert.
Apesar da dramaticidade do enredo, A cor púrpura é uma história sobre mudanças, redenção e amor. A partir da vida de Celie, a aclamada escritora Alice Walker tece críticas ao poder dado aos homens em uma sociedade que ainda hoje luta por igualdade entre gêneros, raças e classes sociais. 


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A cor púrpura é um romance epistolar, que percorre diversos anos da vida da protagonista, Celie. A escrita ocupa um importantíssimo papel em sua vida, abrindo uma via para que ela possa se expressar e refletir sobre a sua realidade através das cartas que escreve para Deus e, posteriormente, para a sua irmã Nettie. 
A vida de Celie não é nada fácil. Já nas primeiras cartas percebemos o quanto a pobreza, a violência e o abuso fazem parte de sua realidade. Numa linguagem simples, que mesmo na tradução traz os erros gramaticais e expressões populares usadas pela personagem, Celie nos conta com muita naturalidade fatos que nos chocam e não são nada fáceis de engolir. 
Num deixa eles dominarem você, a Nettie fala. Você tem de mostrar pra eles quem é que manda. Eles é que mandam, eu digo. Mas ela cuntinua. Você tem que brigar. Você tem que brigar. Mas eu num sei como brigar. Tudo o queu sei fazer é cuntinuar viva." p. 31
A relação com o divino é um tema recorrente no livro. Em diversos momentos Celie se questiona a respeito da presença de Deus, do seu papel em sua vida, e inclusive debate isso com outras personagens. São reflexões muito interessantes e que contribuem para o amadurecimento de Celie. 


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O fato de ser escrito em cartas permite ao livro saltos temporais e elementos que ficam intencionalmente fora da história entre uma carta e outra, o que considero um recurso interessante para a narrativa. Preenchemos com o que imaginamos, e depois aos poucos vamos descobrindo mais sobre os fatos. 
A questão racial é outro elemento marcante do livro. O que mais me cativou foi ler este debate sobre o racismo nos EUA a partir do olhar de mulheres negras, não só do de Celie mas também de outras mulheres importantes para a história, como Shug Avery e Sofia. Cada uma delas é cheia de personalidade, e trazem diferentes maneiras de sobreviver numa sociedade tão racista e misógina. 
Outra camada relevante no livro é a que é acrescentava por Nettie, a irmã de Celie que, na vida adulta, se torna missionária no continente africano. Entram aqui reflexões sobre o colonialismo, o sincretismo religioso, dentre outros temas. 
Ah, Celie. A incredulidade é uma coisa terrível. Como também é o mal que fazemos aos outros sem saber." p. 218

O livro também traz belas reflexões sobre o amor. O amor idealizado, o amor real, as falácias do casamento. Temos também o amor entre duas mulheres, num romance repleto de idas e vindas, marcado pela descoberta sexual das envolvidas. Achei muito interessante como esse elemento foi incorporado na história. 

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Percebam que nesta resenha eu não entreguei muito do enredo, não relatei o que acontece ao longo do livro. É que quando comecei a ler "A cor púrpura", eu também não sabia muito do que aconteceria e foi bem interessante ler dessa forma, sem muitas informações prévias. Por isso, optei por pincelar elementos presentes na narrativa sem entregar muito do que realmente acontece, para que você que ainda não leu possa ter uma experiência semelhante à minha. 

Sobre a autora


Alice Walker ganhou o Prêmio Pulitzer e o American Book Award com A cor púrpura. Entre seus outros livros estão The Third Life of Grange Copeland and Meridian , By the Light of My Father’s Smile , Possessing the secret of Joy e Temple of my familiar . Ela também é autora de duas coletâneas de contos, três reuniões de ensaios, poemas e livros infantis. Seus livros foram traduzidos para mais de uma dúzia de idiomas. Nascida em Eatonton, Georgia, em 1944, Walker vive hoje no Norte da Califórnia.

Me conta nos comentários as suas impressões sobre este romance de Alice Walker! 

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ISBN: 978-85-0301-031-3

Editora: José Olympio

Nota: 5/5 ⭐

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