SINOPSE
Apesar da fatalidade, a morte também tem seus caprichos. E foi nela que o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel da Literatura buscou o material para seu novo romance, As intermitências da morte . Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema.Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder "passar desta para melhor". Os empresários do serviço funerário se vêem "brutalmente desprovidos da sua matéria-prima". Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não para de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque "sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja".
Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna?
Ao fim e ao cabo, a própria morte é o personagem principal desta "ainda que certa, inverídica história sobre as intermitências da morte". É o que basta para Saramago, misturando o bom humor e a amargura, tratar da vida e da condição humana.
A passagem do ano tinha deixado atrás de si o habitual e calamitoso regueiro de óbitos, como se a velha átropos dentuça arreganhada tivesse resolvido embainhar a tesoura por um dia." p. 11
Pesquisei e descobri que Átropos é uma das 3 moiras da mitologia grega, que regiam os destinos. Era considerada a mais velha, a "inevitável e inflexível", que cortava o fio da vida. Existe até um artigo acadêmico publicado na revista de estudos literários Ipotesi que fala sobre o livro e essa relação com Átropos construída pelo autor, que pode ser lido clicando aqui. Usei esse exemplo para demonstrar o quanto esse livro consegue, em uma página, ser pauta para muitas discussões pertinentes.
PERGUNTAS E ELUCUBRAÇÕES
Nem tudo é festa, porém, ao lado de uns quantos que riem, sempre haverá outros que chorem, e às vezes, como no presente caso, pelas mesmas razões." p. 25
Saramago faz você pensar numas coisas... Por exemplo, é a existência da morte que faz com que aprecíemos a vida? Como nos sentiríamos, pessoalmente, na ausência dela? Será mesmo que não morrer seria um livramento? Sobre essa última pergunta, percebo que isso depende muito se a imortalidade é individual ou coletiva, como é o caso deste livro. Pensar numa realidade em que ninguém de um país é capaz de morrer nos abre para muitos questionamentos.
NARRAÇÃO EM DESTAQUE
Por que a filosofia precisa tanto da morte como as religiões, se filosofamos é por saber que morreremos, monsieur de montaigne já tinha dito que filosofar é aprender a morrer." p. 38
A MORTE COMO PERSONAGEM
A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste." p. 139
O que pensa a morte sobre nós? Como é, para ela, exercer a função que exerce? São outros questionamentos que vão sendo respondidos, ao mesmo tempo que criam outros questionamentos na nossa cabeça. Eita que Saramago faz mesmo a nossa mente trabalhar, viu?!
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