Resenha: A filha perdida (Elena Ferrante)

Tô de volta por aqui após algumas semanas bem agitadas pra falar de uma leitura que fiz nos últimos dias de calmaria das minhas férias, quando viajei para Porto de Galinhas. Eu sou dessas leitoras que gosta de combinar a leitura com o momento que estou vivendo, então escolhi ler A filha perdida enquanto estava na praia, já que o livro se passa no litoral italiano. Essa é a segunda obra que leio da Elena Ferrante, e finalmente vim aqui compartilhar minhas impressões.

livro a filha perdida

SINOPSE


Lançado originalmente em 2006 e ainda inédito no Brasil, o terceiro romance da autora que se consagrou por sua série napolitana acompanha os sentimentos conflitantes de uma professora universitária de meia-idade, Leda, que, aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias na praia, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida ― e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.


capa a filha perdida

Comecei a ler esse livro do jeito que eu gosto: sem saber nada sobre a história. Logo de cara dá pra perceber que, assim como em Dias de abandono, teremos uma protagonista com a mente atribulada aqui - o que parece ser característico das obras da Ferrante -, elemento que me chama muito a atenção. Leda nos revela logo de início que se sente aliviada por estar longe da filhas, apreciando uma fase em que elas não demandam mais os seus cuidados constantres, tendo já se tornado adultas e independentes. De férias na praia, ela procura relaxar e trabalhar em seus projetos num ambiente diferente. 
Percebi há muito tempo que conservo pouco de mim e tudo delas." p. 15
Mas a verdade é que Leda é uma fofoqueira. Não das que espalham a fofoca, mas das que gostam de observar a vida alheia, reparar nos detalhes. Da sua cadeira na praia ela começa a futricar a vida de Nina, uma jovem mãe que não deixa muito claro se está feliz ou triste, se tem ou não uma boa relação com os outros familiares a sua volta, e aos poucos Leda vai tentando descobrir tudo isso. 
As coisas mais difíceis de falar são aquelas que nós mesmos não conseguimos entender." p.06
Na medida em que descobre mais sobre Nina, Leda descobre mais sobre si mesma. Ela reflete sobre a sua vida, focando principalmente nas questões que envolvem a maternidade - seja em sua relação com a sua mãe ou com as próprias filhas. Tudo é narrado com bastante sinceridade, sem arrodeios, afinal não há necessidade disso: estamos na cabeça de Leda, não num fluxo de pensamento mas num diálogo direto com ela. São verdades por vezes indigestas, coisas que você lê e pensa "caramba, como alguém teria coragem de expor isso?". Parece que tudo o que incomoda, o que geralmente é escondido, silenciado, é atraído pela escrita da Ferrante.

a filha perdida

Eu gostei demais desse livro. As personagens são intrigantes, a narrativa é envolvente. Ele surpreende com coisas simples, com coisas estranhas que vão acontecendo e geram até mesmo certo suspense. O fato de se passar no litoral sul da Itália é também muito cativante, e elementos da cultura napolitana aparecem a todo tempo no livro. A obra traz várias reflexões interessantes, inclusive algumas eu gostaria que tivessem sido mais desenvolvidas - o livro é curto, e alguns pontos que eu tinha a expectativa que fossem retomados posteriormente na narrativa acabaram sendo suprimidos. 
Os filhos são assim, às vezes amam com afagos, outras vezes tentam mudá-la totalmente, reinventando você, como se achassem que cresceu mal e que é dever deles ensinar a como estar no mundo, a música que você deve ouvir, os livros que deve ler, os filmes que deve assistir, as palavras que deve ou não usar porque são velhas, ninguém as usa mais." p. 132
O livro foi adaptado em um filme da Netflix, mas não gostei muito do que fizeram com ele. Pra começar, não se passa na Itália, e nenhum elemento da cultura italiana está presente. Também foram suprimidas as partes das recordações da relação de Leda com sua mãe, focando apenas no caso das filhas. Ainda assim é um bom filme, e conta com a incrível atuação de Olivia Colman. Confira o trailer: 


Recomendo demais esta obra, inclusive para quem está querendo conhecer a Ferrante. Foi uma experiência bem mais positiva do que Dias de Abandono, que li alguns anos atrás e resenhei aqui. Acho que agora estou pronta pra ler a Tetralogia da autora, só não sei ainda quando! Me contem nos comentários se já leram ou pretendem ler algo dela. 


ISBN: 978-85-510-0032-8
Editora: Intrínseca 
Páginas: 174
Nota: 4,5/5 ⭐

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