Resenha: A metade perdida (Brit Bennett)

Quando li "As mães" da Brit Bennett eu me encantei com a escrita da autora, e assim que soube do lançamento de seu novo livro fiquei com ele na lista, antes mesmo de ser publicado no Brasil. O tempo se passou e, anos depois, finalmente li este livro! E chegou a hora de contar o que achei dele.

a metade perdida

SINOPSE

As irmãs Vignes são gêmeas idênticas. Quando, aos 16 anos, resolvem fugir de casa, elas não fazem ideia de como isso vai alterar suas trajetórias. Mais de uma década depois, uma delas volta para a cidade natal ― uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos obcecada por novas gerações de pele cada vez mais clara ―, e o choque não poderia ser maior. Porque ela não apenas chega sem a irmã, mas com uma criança. Uma criança de pele muito escura.
Para as gêmeas, a separação não significou apenas o rompimento de um laço sanguíneo. Elas se encontram em pontos muito distantes em uma sociedade racista: enquanto uma se casa com um homem negro e é obrigada a retornar ao lugar de onde escapou tantos anos antes, a outra é vista como branca, e o marido branco não faz ideia de seu passado. Ainda que separadas por milhares de quilômetros ― e incontáveis mentiras ―, o destino das duas permanece interligado. E o que acontecerá quando os caminhos de suas filhas acabarem se cruzando também?
Ao reunir diversos núcleos e gerações de uma mesma família, do extremo sul dos Estados Unidos à Califórnia, entre os anos 1950 e 1990, Brit Bennett constrói uma história emocionante, que também analisa de forma brilhante conceitos como passabilidade e colorismo. A metade perdidatrata de questões raciais, explora a influência duradoura do passado em nossas vidas ― seu poder de moldar decisões, desejos e expectativas ― e apresenta as razões pelas quais algumas pessoas se sentem compelidas a se afastar de suas origens.


a metade perdida

De início somos apresentados à uma comunidade sulista americana, e à realidade de duas irmãs gêmeas, as Vignes. Buscando emancipação, elas fogem juntas para tentar a vida por outros lugares, mas acabam se separando de uma maneira que logo de início é um tanto misteriosa.
Enquanto Stella vive uma vida de branca, num contexto social confortável e longe de sua família, Desiree se casou com um homem negro retinto e teve uma filha bem mais escura que ela. Agora separada, ela volta para a sua cidade natal e tenta descobrir mais sobre o paradeiro da irmã.
Toda cidade parece diferente quando você retorna, como uma casa que teve todos os móveis deslocados dez centímetros. Você não confundiria com outra casa, mas bateria as canelas em todos os cantos." p. 22

Mais pra frente no livro o protagonismo pula uma geração e a filha de Desiree passa a ser uma peça chave para a narrativa. Histórias pagadas passam a ser recontadas e vamos descobrindo mais sobre o contexto das irmãs, da sua cidade de origem e também sobre a problemática do colorismo nos EUA. 

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a metade perdida

Eu gostei bastante dessa história, apesar de ela não ter me prendido logo de início. Na medida em que vamos conhecendo mais sobre as personagens ela vai se tornando mais interessante. Gostei bastante de como o livro atravessa décadas e conversa com outras questões sociais, como a transexualidade, trazida de forma bastante natural dentro do enredo (como deve ser). A autora denota diversas problemáticas pertinentes, como o preconceito racial e a segregação em bairros de maioria branca, e a questão da identidade e do auto-reconhecimento (afirmação) como pessoa negra. 

Essa gente branca te mata se você quiser coisa demais e te mata se quiser de menos também [...] Você tem que seguir as regras deles, mas mudam as regras quando bem entendem. É diabólico, se quer saber." p. 41

A narrativa é forte e emociona com seus diferentes contextos. É interessante observar os aspectos culturais e a construção dos estereótipos que compõem o "ser branco" ou "ser negro" nos EUA. Fica o questionamento: "vale a pena viver uma farsa só para ter acesso a privilégios?". Gostei bastante de fazer essa reflexão. 

quote a metade perdida

Recomendo demais essa leitura e amei ler outra obra da Brit Bennett! 

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ISBN: 978-65-5560-154-1

Editora: Intrínseca

Nota: 4/5⭐

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