Resenha: A autobiografia de um escravo (Frederick Douglass)

Tenho apreciado cada vez mais ler biografias, e sinto que aprendo demais com estas narrativas. Com "A autobiografia de um escravo" não foi diferente, e neste post irei compartilhar com vocês as minhas impressões sobre a história de Frederick Douglass. 

a autobiografia de um escravo

SINOPSE

Frederick Douglass é um dos homens cuja trajetória pode ser classificada como uma das mais impressionantes da história mundial.
É importante ressaltar que Douglass não é apenas um personagem cuja relevância se reduz à história dos Estados Unidos. Trata-se de um homem cujas ideias e ações possibilitaram uma maior compreensão do mundo em que hoje vivemos e que deixou relatos que nos permitem assistir a como funcionavam as sociedades escravocratas.
Na Autobiografia aprendemos, por meio de seu olhar, de que modo as sociedades construídas sobre o trabalho escravo firmaram, a exemplo do que ocorreu no Brasil, um pacto de todos contra os escravizados, pacto este que está na composição das instituições jurídicas, das instituições políticas e na vida cotidiana.”
Da Apresentação, de Silvio Almeida


a autobiografia de um escravo

O livro de Douglass é uma narrativa poderosa a respeito da escravidão nos EUA. Por mais que você conheça os fatos, o livro consegue trazer percepções que nos fazem refletir a respeito da escravidão como um todo e também de forma subjetiva, através da história de vida de Douglass.

A leitura deste livro não é fácil. Por mais que a narrativa seja simples, a realidade que ela traduz é pesada. Há muitas descrições de violência, mas nenhuma é feita de maneira gratuita. É claro o objetivo de Douglass de nos mostrar a realidade nua e crua, nos fazendo temer e causando repulsa pelas práticas dos antigos senhores de engenho e seus capatazes.

Era um dito comum, mesmo entre meninos pequenos, que custava meio centavo para matar um "preto" e outro meio centavo para enterrar um." p. 53

A relação de Douglass com a leitura é sem sombra de dúvida um dos pontos mais fortes do livro. Sua defesa da leitura como instrumento para a liberdade é sustentada por sua própria experiência, nos fazendo perceber como o acesso à educação é essencial para a autonomia de um indivíduo. O próprio Douglass, por um período de sua vida, foi um educador, tendo ajudado outros escravos no processo de letramento.

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Por mais que o livro tenha sido escrito em uma época em que a escravidão ainda nem havia sido abolida, servindo inclusive como ferramenta para o movimento abolicionista, ele continua sendo importante até hoje para elucidar alguns pontos desta época tão horrível e para nos lembrar do quanto a liberdade é essencial para uma sociedade justa. Ler obras assim sempre acabam ativando o lembrete do quanto a humanidade pode ser cruel, e que nem faz tanto tempo assim desde que essa crueldade era legitimada por leis e pela religião (a abordagem do autor sobre a chamada "religião escravagista" é muito interessante por sinal).

 Muitas vezes desejei que eu mesmo fosse um animal. Eu preferia a condição do mais desprezível réptil à minha própria. Qualquer coisa, não importava o quê, para me livrar de pensar! Era o constante pensar na minha condição que me atormentava. [...] A trombeta prateada da liberdade despertara minha alma para a eterna consciência." p. 68

Esta foi com certeza uma das melhores biografias que já li, e recomendo imensamente a leitura para todos os interessados em aprender mais sobre o tema. A edição da Autêntica está incrível e conta com vários textos complementares, como o icônico discurso de Douglass sobre o 4 de julho e o prefácio da edição original, feito pelo abolicionista WM Lloyd. Vale muito a pena ler tudo! 

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ISBN: 978-65-86551-29-7

Editora: Autêntica

Nota: 5/5⭐

1 Comentários

  1. Maria Luíza, os tempos que vivemos hoje não trazem a explecitude da época da escravidão, mas os seus reflexos são concretos em vários níveis. Apesar do óbvio racismo nos Estados Unidos, houve avanços legais que asseguram que esse tipo de manifestação seja punido juridicamente. No Brasil, também estamos caminhando nesse sentido, mas ainda há muito por se fazer. A violência que mata e prende mais pretos do que brancos - tanto lá quanto aqui - mostra que muito tem a ser feito nas relações étnicas. Relatos como da "Autobiografia De Um Escravo" ajudam que avancemos na compreensão da "religião escravista", com muitos e fiéis seguidores.

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