Acredito que todo mundo já se pegou pensando ao menos uma vez na vida como seria se todo mundo do mundo desaparecesse. Até a Rihanna lançou Only girl (in the world), com aquele clipe lá da era do cabelo vermelho. Essa ideia faz parte do nosso imaginário, mas e se isso realmente acontecesse, como ia ser? É basicamente o que rola em Blecaute, livro do brasileiro Marcelo Rubens Paiva.
SINOPSE
A cidade está deserta: as pessoas ficaram imóveis, como se tivessem sido congeladas no tempo. Os carros ocupam as avenidas, os alimentos apodrecem nos supermercados, os telefones estão mudos. O alcance do acidente é global, e o estranhamento inicial dá lugar à solidão. Depois, aos desentendimentos, que podem levar à violência. Em Blecaute, segundo romance de Marcelo Rubens Paiva, ele nos leva a um mundo estranho, numa narrativa impactante, irresistível, sobre o fim dos tempos.
Este é o cenário: o narrador Rindu e seus dois amigos Mário e Martina vão para uma expedição em uma caverna, ficam presos lá após uma enxurrada e, passados alguns dias, conseguem sair de lá. Mas desde a estrada o cenário já está diferente: carros parados, com motoristas "endurecidos", como estátuas. Chegando em São Paulo o terror apenas se agrava, com ruas desertas, a não ser por alguns eventuais animais de rua. Em casas e estabelecimentos, mais corpos duros, sem sinal de vida. Restaram só eles três.
Através de pensamentos e flashbacks de Rindu, vamos descobrindo a respeito de sua relação com Mário, que é seu amigo desde a infância, e Martina, que é recém chegada à vida deles e está em um relacionamento enrolado com Mário. Os três são universitários, imaturos e com visões diferentes de como agir nesta situação. As perguntas não param: o que diabos aconteceu? Será que o mundo todo está assim? Uma hora tudo vai voltar ao normal? Independente de qualquer coisa, os três precisam descobrir uma forma de continuar vivendo.
LEIA TAMBÉM: Oryx e Crake (Margaret Atwood)
Esta nova realidade faz com que os amigos reflitam bastante acerca da sociedade como um todo, que agora encontra-se destituída. Sob o ponto de vista de Rindu, vivenciamos alguns embates internos que são convenientes para serem discutidos até mesmo hoje em dia, com o mundo assim do jeito que ele é. A nossa fragilidade e superficialidade como seres humanos e sociais são evidenciadas em suas reflexões naquela cidade vazia.
Imaginei que, se dali a 5 mil anos existisse uma outra civilização, ainda haveria excursões de turistas curiosos em conhecer as várias etapas da raça humana. Primeiro visitariam as misteriosas pirâmides do Egito. O homem primitivo. Em seguida fariam visitas aos shopping centers, para conhecer o auge de uma sociedade "arcaica", quando um curiosos papel chamado "dinheiro" determinava o que o cidadão da época poderia ter ou não ter." p. 27
Com o passar do tempo, o tédio passa a consumir a vida dos personagens, e preciso dizer que ele acabou por me consumir como leitora também. Apesar de considerar o plot interessante, não achei que ele trouxe real profundidade, ficando preso às percepções do Rindu e as excessivas histórias de seu passado. Acredito que o leitor conhecedor de São Paulo possa se relacionar melhor com o enredo, já que ele nomeia muitas ruas e pontos da cidade, o que deve trazer uma visão mais interessante para a obra. Porém, para mim, faltou ação. Não que eu esperasse que muita coisa fosse acontecer num contexto feito por apenas três pessoas, mas considero que a premissa por si só dava muito mais pano pra manga.
No geral, esta é uma história capaz de entreter um leitor ávido por narrativas jovens e pautadas por boas discussões. Levei o livro comigo em uma viagem para a praia e foi uma companhia satisfatória, que proporcionou até algumas risadas. É um livro curto, de pouco mais de 200 páginas, e que me deixou curiosa por outras obras do tão comentado Marcelo Rubens Paiva. Feliz ano velho provavelmente será o próximo.
ISBN: 978-85-5652-101-9
Editora: Alfaguara
Nota: 3/5⭐
Só li Feliz ano velho do Marcelo Rubens Paiva...Adorei a história desse livro.
ResponderExcluir