Pequenos incêndios por toda parte (Celeste Ng)

Se você acompanha outros perfis literários provavelmente já ouviu falar neste livro. Arrisco dizer que ele foi um dos títulos mais comentados deste ano até então, mas eu só decidi lê-lo quando o CALMA - Clube Ativista Literário para Mulheres Ansiosas o anunciou como leitura do mês de junho. Garanti então o meu e-book de Pequenos incêndios por toda parte na Amazon e dei início à leitura no Kindle.

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SINOPSE


Em Shaker Heights tudo é planejado: da localização das escolas à cor usada na pintura das casas. E ninguém se identifica mais com esse espírito organizado do que Elena Richardson.
Mia Warren, uma artista solteira e enigmática, chega nessa bolha idílica com a filha adolescente e aluga uma casa que pertence aos Richardson. Em pouco tempo, as duas se tornam mais do que meras inquilinas: todos os quatro filhos da família Richardson se encantam com as novas moradoras de Shaker. Porém, Mia carrega um passado misterioso e um desprezo pelo status quo que ameaça desestruturar uma comunidade tão cuidadosamente ordenada.
Eleito nos Estados Unidos um dos melhores livros de 2017 por veículos como Entertainment Weekly, The Guardian e The Washington Post, Pequenos incêndios por toda parte explora o peso dos segredos, a natureza da arte e o perigo de acreditar que simplesmente seguir as regras vai evitar todos os desastres.


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O título do livro já é explicado nas suas primeiras páginas, quando um incêndio na casa dos Richardson é descrito, provavelmente cometido pela filha mais nova do casal, a Izzy. Todos apontam que ela o cometeu, o que já deixa o leitor bem intrigado com a personagem. Porém logo o enredo volta alguns meses apresentando o contexto da década de noventa em Shaker Heights, o bairro planejado onde moram os Richardson e para onde se mudam Mia e Pearl, respectivamente mãe e filha.
As duas novas moradoras, mulheres pobres e de cor, não parecem se encaixar tanto neste bairro tão perfeito, mas é a própria Elena Richardson que se dispõe a alugar para elas um andar de sua casa conjugada. É que Elena é o que podemos chamar de white savior, termo que se popularizou para descrever pessoas brancas que buscam "resgatar" pessoas em situações de vulnerabilidade como forma de alimentar o próprio ego. Em pouco tempo descobrimos que Mia é uma artista: uma fotografa singular, que produz muito mais que imagens, mas formas e esculturas que estão presentes em suas fotos. Porém, apesar de seu talento, Mia parece ter passado a vida fugindo de algo: ela está sempre se mudando, tem uma áurea de mistério e se sustenta com o mínimo necessário para viver.

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Por serem da mesma idade e estudarem na mesma escola, Pearl se torna amiga de Moody, filho de Elena, e logo se aproxima também de seus outros filhos, Lexie e Trip. Até aí os Richardson estão bém, mas o tiro sai pela culatra quando, em outra demonstração de seu complexo de branca salvadora, Elena oferece a Mia um emprego em sua casa, e os seus filhos começam a admirar bastante a artista: principalmente Izzy. Elena não compreende essa admiração e começa a investigar a vida de Mia, tentando saber mais sobre o seu passado.
Por um lado, queria estudar Mia feito uma antropóloga, para entender por que - e como - ela fazia aquilo. Por outro - embora só tivesse uma vaga consciência, até então -, ela se sentia incomodada, queria vigiar Mia, da forma como vigiamos uma fera perigosa"
Apesar de termos como foco Mia e os Richardson, o enredo tem uma virada quando sabemos a história de Bebe, uma imigrante chinesa que precisou abandonar a filha recém nascida por não ter condições econômicas para alimentá-la. Mia conhece Bebe em seu outro trabalho num restaurante e aos poucos elas se tornam amigas, e a perspectiva de um reencontro entre Bebe e sua bebê entra em cena. Mal sabemos que os Richardson também podem estar indiretamente ligados a essa história...

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Não querendo entregar demais sobre a trama, gostaria de elogiar a discussão racial presente na obra. Mesmo que de forma sutil, estão presentes ali temáticas muito interessantes, como as críticas a ideia de white saviors, relacionamentos inter-raciais, imigração e preconceito. A autora também conseguiu criar um dilema muito interessante sobre o caso Bebe, capaz de deixar nós, leitores, intrigados. Afinal, qual o caminho certo a seguir? Qual é a melhor decisão? Me peguei questionando diversos fatores que envolvem a problemática, e acho que nesse ponto a autora acertou muito.
Todo mundo liga para cor, Lex - retrucou Moody - A única diferença é que tem gente que finge não ligar." 
Por outro lado, um plot que julguei extremamente desnecessário foi o do falecido irmão de Mia. Já falei em várias resenhas aqui no blog, inclusive na última que publiquei, sobre o quanto se tornou clichê na literatura usar o "plot do irmão morto", que neste caso nem foi bem desenvolvido e só serviu para tornar o passado de Mia mais sombrio e como ponto de ruptura naquele momento de sua vida. Outro elemento poderia ter sido utilizado obtendo o mesmo efeito, impedindo que a obra trouxesse mais do mesmo.

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Sobre a escrita da Celeste Ng, encontrei um total de 0 defeitos. Gostei de como ela escreve alguns devaneios na narração em terceira pessoa, tentando explicar ou até prever como os fatos deveriam acontecer. Ela construiu personagens complexos e ainda assim repletos de imperfeições, o que os torna ainda mais interessantes.

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O livro foi adaptado em uma série da Prime Video, que extrapola alguns temas da obra e retrata de maneira ainda mais gráfica a questão racial, além de debater outros temas pertinentes como gênero e sexualidade. Porém o que me incomodou na adaptação foram as mudanças bruscas que fizeram na personalidade dos personagens, que tem atitudes que não condizem com a forma como são apresentados no livro. Isso me deixou um tanto irritada enquanto assistia, pois particularmente achei eles bem mais interessantes no livro. Entretanto, tenho certeza que se não tivesse lido o livro para comparar, iria gostar da série. Por isso acho que vale a pena dar uma chance a essa produção também! Caso queira saber mais sobre ela, dá um play no trailer abaixo:


Se você está buscando uma leitura de ficção que te possibilite refletir sobre raça, classe e gênero, indico firmemente este livro. Você vai se surpreender com a narrativa, que me deixou imersa durante dias em Shaker Heights. Me conta nos comentários se este enredo te intrigou, vou adorar saber! 


ISBN: 978-85-510-0313-8
Editora: Intrínseca
Nota: 4 ⭐

13 Comentários

  1. É bem intrigante mesmo a história, e os temas abordados no livre são bem importante no atual contexto da sociedade.
    Essa questão de plots clichês são engraçados, já reparou que existem alguns clichês característicos de um período? vou usar filmes como exemplo, vou usar jogos mortais como exemplo: foi um sucesso grande na época, daí surgiram vários filmes com joguetes violentos. Acho que a questão do "plot do irmão morto" se encaixa nisso também!.
    Enfim, sobre a adaptação é sempre algo muito complicado e daria uma debate bem longo sobre isso xP

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  2. Que livro interessante, Malu! E além disso não conhecia o termo "White savior",já tinha lido algumas críticas, mas não sabia como chamar. Muito legal o livro debater isso!

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  3. Oie Achei muito interessante, eu não conhecia o livro, e adorei conhecer

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  4. Nossa amei esse livro, fiquei curiosa para ler ele e conhecer mais sobre.

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  5. Adorei a resenha!

    Já tô bastante intrigada com esse livro/série a algum tempo, mas pela forma que tinha visto tinha ficado com a sensação de que a história podia ser meio pesada e tô evitando isso ultimamente hahah... acho que agora fiquei realmente a fim de ler/ver.

    Beijos,
    A Menina da Janela

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  6. Definitivamente fiquei com vontade de ler! Ja vai pra lista de leitura da quarentena ahahahha otima resenha!

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  7. Olá!! Acredito que qualquer coisa sobre ficção que possibilita refletir sobre raça, classe e gênero, é algo que precisamos para agora. Fiquei muito interessada em ler.
    E confesso que ainda estou em um processo para conseguir ler livros digitais.
    As fotos ficaram lindas.
    xoxo

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  8. Oi, Malu! Eu nunca tinha ouvido falar no livro, mas já gostei pela sua resenha, principalmente por explorar um pouco pautas raciais. E é super legal o fato de transformarem numa série, né? Amo adaptações! <3

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  9. Nunca tive muita vontade de ler esse livro, mesmo quando ele estava no auge do hype, mas confesso que com a série que acabou de ser lançada a vontade de ler cresceu um pouco. Não adianta negar: eu vejo um livro virando filme/ série e automaticamente quero ler hahaha.
    Adorei as suas fotos, e sua resenha me deixou curiosa pra ler :)

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  10. Esta resenha ficou muito boa, gostei muito da sua forma de falar faz a gente ter vontade de ler. Gostei também de saber que vai ser uma serie. Atualmente não estou lendo muito livros mais gostaria de saber mais.Estes dilemas envolve muito a gente com a leitura.

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  11. Eu estou DOIDA pra ver essa série por causa do elenco e das temáticas, mas confesso que não sabia que era baseada em livro! Você é a primeira pessoa que vejo falando dele e, menina, fiquei aibda mais curiosa pra trama, principalmente a original. Arrasou na resenha, super pertinente levantar os debates que ele traz!

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  12. Oi, tudo bem? Realmente tem muita gente comentando sobre o livro ainda mais depois da estreia da série. Antes disso não conhecia o livro e achei a premissa bem interessante. Quanto ao livro ainda não li mas assisti a série num final de semana e gostei das questões que ela aborda. Principalmente sobre diferenças sociais e bullying. Espero conseguir ler em breve. Um abraço, Érika =^.^=

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  13. Não entendi muito bem o hype feito em cima desse livro. A questão de raça não é a premissa principal da história como é dito por toda a internet e a personagem principal do livro, a Mia é uma péssima pessoa, que está em uma luta sem sentido e eterna com os pais, arrasta a filha para uma vida nômade, sem laços afetivos e nem familiares e julga os fatos que vê baseado em sua vivência estranha. E a autora tenta a qualquer custo mostrar como ela é maravilhosa em relação as demais mulheres da cidade, que tem vida estável, casamentos duradouros e criam muitos filhos de forma segura. Segundo a mia, um bando de "reprimidas".

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