A sombra do vento (Carlos Ruiz Zafón)

É com muito pesar que escrevo esta resenha logo após o falecimento do autor Carlos Ruiz Zafón. Acordei na manhã do dia 19 de junho de 2020 dando de cara com a notícia dessa perda imensa para o meio literário. Zafón vinha lutando contra o câncer há alguns anos, e sua morte foi prematura: ele tinha apenas 55 anos de idade. Dói pensar nessa perda e no que ele ainda poderia produzir, já que suas obras vêm ganhando o devido destaque nos últimos anos e ele com certeza ainda tinha bastante a oferecer. Mas é preciso aceitar a efemeridade da vida... E como homenagem ao autor, vim aqui finalmente resenhar a sua obra mais famosa, que tive a chance de ler apenas algumas semanas atrás.

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Este livro é o primeiro livro da tetralogia "O Cemitério dos Livros Esquecidos"

SINOPSE


Barcelona, 1945. Daniel Sempere acorda na noite de seu aniversário de onze anos e percebe que já não se lembra do rosto da falecida mãe. Para consolá-lo, o pai leva o menino pela primeira vez ao Cemitério dos Livros Esquecidos.
É lá que Daniel descobre A sombra do vento, romance escrito por Julián Carax, que logo se torna seu autor favorito, sua obsessão. No entanto, quando começa a buscar outras obras do escritor, Daniel descobre que alguém anda destruindo sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que Carax já publicou, e que o que tem nas mãos pode muito bem ser o último volume sobrevivente.
Junto com seu amigo Fermín, Daniel percorre a cidade, adentrando as ruelas e os segredos mais obscuros de Barcelona. Anos se passam e sua investigação inocente se transforma em uma trama de mistério, magia, loucura e assassinato. E o destino de seu autor favorito de repente parece intimamente conectado ao dele.

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Este livro retrata diversas fase da vida de Daniel Sempere, morador de Barcelona e filho de um livreiro. É através do pai que Daniel conhece o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma espécie de biblioteca secreta que serve de abrigo para diversas obras literárias. Lá Daniel encontra o livro "A sombra do vento", do autor Julián Carax, que de cara encanta aquele pequeno leitor de apenas 11 anos. Em busca de novas obras e informações do autor, o garoto embarca em diversas aventuras pelas ruas de Barcelona, na companhia de figuras que se tornam parte de toda essa jornada.
A verdade é que Carax é um autor bem mais misterioso do que aparenta no início. Aos poucos vamos descobrindo sobre o seu passado obscuro, que vem sendo apagado por um homem estranho que tem como objetivo de vida queimar as obras do autor. A cada nova informação Daniel fica mais obcecado, e parece ser o seu destino descobrir a verdade sobre Carax: um autor cuja vida se alinha muito com a realidade que Daniel está vivendo. 
Nunca confie em ninguém, Daniel, muito menos naqueles que admira. Serão essas pessoas as que desferirão os piores golpes.
Um elemento presente em todo o enredo são os livros, como é de se imaginar pela premissa. Porém, muito mais que mencionar obras, o autor retrata aqui a paixão que é encontrada em cada amante da literatura. Nos Sempere, vemos os livros como ofício em seu trabalho na livraria. Um outro livreiro importante na trama é Barceló, grande admirador de obras raras e que vê os livros como um recurso luxuoso. Sua sobrinha, Clara, é uma jovem cega que ama a literatura mesmo sem poder enxergá-la: uma prova de que os livros também podem nos encantar pelos ouvidos. Záfon fez questão de trazer o papel dos livros na vida de cada um dos personagens da obra, demonstrando o caráter subjetivo da literatura em nossas vidas.

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A escrita de Zafón é fenomenal, daquelas que continuam ressoando em nossas mentes muito depois de ter pausado a leitura. Ele foi capaz de construir em A sombra do vento um conjunto muito bom de personalidades e histórias, trazendo um humor sútil a uma trama tão repleta de dramas obscuros. A sua escrita não está, entretanto, livre de alguns clichês: um elemento em específico me incomodou, pois pareceu ter sido inserido apenas para causar choque ao leitor, sem ser muito bem aproveitado ou até mesmo sem possuir importância real para a narrativa. Minha vontade foi de excluir esse elemento do livro (caso queira uma explicação franca com spoiler, é só me enviar um e-mail que a gente conversa, hehe).
Este mundo não vai acabar por causa da bomba atômica, como dizem os jornais, vai acabar, sim, de tanta risada, de tanta banalidade, por essa mania de se fazer piada com tudo, e piadas ruins, ainda por cima.
Um fator que para mim pode ser decisivo para tornar uma leitura inesquecível é a possibilidade de identificação com a obra, e essa faz isso muito bem. Me vi várias vezes acenando com a cabeça em concordância com as afirmações contidas no livro. Muitas delas vinham de Fermín, um personagem extremamente perspicaz que entra na vida de Daniel meio por acaso, mas logo se torna um de seus melhores amigos.
Malvadas, não — observou Fermín. — Imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não para para pensar ou raciocinar.
No fim das contas eu percebo que não sei muito bem como falar sobre este livro. Ele é um daqueles que fala por si só, que transmite uma mensagem capaz de ser recebida apenas através de sua leitura por completo. Espero ao menos que minhas palavras tenham sido suficientes para deixar vocês curiosos quanto a obra de Zafón, que eu espero que permaneça imortal dentro do universo literário. Ele com certeza continuará sempre em meu coração, e não vejo a hora de ler as outras obras que ele nos deixou no plano terreno.

ISBN: 978-85-438-0952-6
Editora: Suma
Nota: 4,5/5 ⭐

RIP ☆ Barcelona, 1964 🕇 Los Angeles, 2020 (Foto: Reprodução/Instagram)

16 Comentários

  1. Se você não consegue falar muito sobre o livro pois ele fala por si só, acho que é um sinal de que o livro é bom, hahaha!
    Gostei de conhecer esse título <3

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    1. heuheuhe, pois é, o livro me deixou sem palavras.

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  2. Fiquei bem triste de saber que ao autor faleceu. Mesmo não tendo lido nada dele, é triste saber que a vida de um artista foi perdida. Enquanto lia a resenha fiquei muito curiosa para conhecer o trabalho dele, e esse livro me deixou intrigada. Parece ser tão profundo, mas ao mesmo tempo com um certo mistério.

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    1. Sim, o livro carrega uma aura de mistério desde o início, mas também traz esse humor peculiar e palavras que deixam o coração quentinho <3

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  3. Eu já ouvi falar sobre o autor mas ainda não li nada do mesmo. Acredito que essa seja uma oportunidade né? Triste demais ver pessoas novas indo embora...

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    1. É mesmo muito triste... Dá uma chance a essa leitura, acredito que você irá gostar!

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  4. Triste pela morte do autor. Perde -se um grande talento. Quanto a obra, muito bem resenhada por sinal, me deixou bem curiosa e interessada na leitura👏🏼👏🏼♥️📚

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    1. Muito obrigada! Fico feliz de ter despertado em você a vontade de ler este livro <3

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  5. Oi, tudo bem? Assim como você acordei com essa noticia devastadora para mim, sou muito fã das obras dele e estava esperando que logo se recuperaria, para trazer novos lançamentos incríveis pra gente. Em julho estava me programando para realizar a leitura dos livros dele em ordem cronológica mas, agora estou um pouco desanimada com o projeto.
    Eu realizei a leitura da Sombra do Vento em 2019, amei tanto o livro que logo em seguida iniciei O Jogo do Anjo, ainda não consegui concluir essa série mas, agora vou esperar um pouco para ler.

    Resenhas da Viviane
    http://resenhasdaviviane.blogspot.com/

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    1. Não desanima, Viviane! Acho que agora mais do que nunca devemos honrar a obra do autor. Quero muito ler os outros livros dele, já estou com todos na minha lista de desejos <3

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  6. Apesar de nunca ter li nada do autor, fiquei muito triste quando li esta notícia.
    Desejo força para os familiares e para os fãs que o acompanhavam. Agora mais do que nunca, sinto vontade de conhecer a sua escrita.

    Sai da Minha Lente

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    1. Torço pra que a obra de Zafón se popularize ainda mais! Todos merecem conhecer a escrita do autor.

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  7. Nem sei por onde começar, confesso... gostava imenso de Zafon e de sua Barcelona, a que existia apenas em seus livros. E como amei A sombra do Vento, não tanto quanto Marina. Mas risquei mais da metade do livro porque como você, concordava com o que ali estava escrito. A narrativa dele me conquistou. Mas, já faz tempo que li... e confesso que estava a esperar por um novo livro. Nem o sabia doente. Ficava a pensar. Já deve estar para sair e então veio a notícia de sua morte. Espero que tenha deixado algo para depois. Espero mesmo.
    Fiquei curiosa quanto ao clichê, estou tentando me lembrar se algo me incomodou no livro e já olhei para ele na prateleira. Acho que terei que reler... rs

    bacio

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    1. A narrativa construída por Zafón é mesmo incrível... Eu ainda quero muito ler Marina, assim como todas as outras obras do autor. E olha, tenho certeza que um dia irei reler A sombra do vento também! É um desses livros que vale a pena revisitar.

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  8. Olá!
    Não conhecia nem o autor nem a obra, é bem um dos estilos que mais gosto com muito mistério.
    Ótima dica!
    Abraços
    Cintia - Coisinhas da Kika

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