Fique comigo (Ayòbámi Adébáyò)

Ouvi falar da Ayòbámi Adébáyò pela primeira vez há mais ou menos 3 anos atrás, quando várias bookbloggers gringas que sigo estavam comentando sobre o seu romance de estréia. Desde então Stay with me esteve em minha lista de desejos, e pouco depois ele chegou ao Brasil com a tradução direta do título: Fique comigo.
Acabei adquirindo a minha edição, que é a da TAG livros, no sebinho da @descobrindoleituras.  Agradeço a ela por essa aquisição, pois achei a capa linda! Iniciei então a leitura em janeiro, e finalmente descobri de verdade sobre o que trata esta obra tão aclamada.

fique comigo[

SINOPSE


Este romance de estreia inesquecível ambientado na Nigéria dá voz a marido e esposa enquanto eles contam a história de seu casamento ― e as forças que ameaçam destruí-lo. Yejide e Akin se apaixonaram na faculdade e logo se casaram. Apesar de muitos terem esperado que Akin tivesse várias esposas, ele e Yejide sempre concordaram que o marido não seria poligâmico. Porém, após quatro anos de casamento ― e de se consultar com médicos especialistas em fertilidade e curandeiros, tomar chás estranhos e buscar outras curas improváveis ―, Yejide não consegue engravidar. Ela está certa de que ainda há tempo, mas então a família do marido aparece na sua casa com uma jovem moça que eles apresentam como a segunda esposa de Akin. Furiosa, chocada e lívida de ciúmes, Yejide sabe que o único modo de salvar seu casamento é engravidar. O que, enfim, ela consegue ― mas a um custo muito maior do que poderia ter imaginado. Um romance eletrizante e de enorme poder emocional, Fique comigo não apenas debate as questões familiares da sociedade nigeriana, como também demostra com realismo as mazelas e as dificuldades políticas enfrentadas pela população desse país nos anos 1980. No entanto, acima de tudo, o livro faz a pergunta: o quanto estamos dispostos a sacrificar em nome da nossa família?


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Tendo o casamento e a maternidade como bases de discussão, este livro fala sobretudo sobre ser mulher, tanto na Nigéria quanto também em qualquer outro lugar do mundo. Porém, partindo do contexto nigeriano, a obra tem como protagonista Yejide, uma jovem mulher. Logo descobrimos que a mesma enfrenta diversos conflitos, uma vez que o enredo transita entre o seu passado e presente, dos anos 80 aos 2000. 
Um dos primeiros conflitos da história envolve a cultura poligâmica da Nigéria, que vai de encontro aos princípios de Yejide em relação ao amor e casamento. Akin, seu esposo, demonstra concordar com ela; entretanto, certas pressões sociais acabam mexendo com essa percepção do casal. A discussão sobre o tema entra na vida do casal principalmente pelo fato de, após 4 anos de casados, eles ainda não têm filhos. Dentro da cultura nigeriana da época esse fato acaba sendo bastante mal visto, principalmente pelos familiares do casal, o que provoca certa instabilidade.

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A leitura me trouxe diversas sensações diferentes. Adorava as partes que contavam o início do relacionamento do casal, seus encontros na faculdade, suas conversas sobre planos para o futuro. Por outro lado, o dia a dia do casal me deixava aflita. Já é difícil pensar na tensão existente sobre um casal que tenta ter filhos e não consegue, e ler isto dentro do contexto nigeriano elevou a problemática à 10ª potência.
Às vezes, acho que temos filhos porque queremos deixar alguém que possa explicar ao mundo quem éramos depois que morremos." p.121
O sofrimento não para por aí. Além do fantasma da infertilidade que paira sobre o casal, outros fatos tornam-se parte de suas vidas e deixam tudo ainda mais complicado. Me estender sobre o assunto iria entregar muito da história, então prefiro apenas concluir este ponto com a seguinte frase motivacional: o que tá ruim pode sempre piorar.

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CONTEXTO HISTÓRICO


Sobre o contexto histórico no qual o enredo está imerso, a autora tentou inserir acontecimentos que foram importantes para a história nigeriana, como o golpe de 1983 e a tensão política dos anos adjacentes. Porém, foi nesse ponto em que, na minha opinião, ela falhou. Senti que os elementos da história do país foram sendo jogados na obra aleatoriamente, apenas para aparecerem ali. Acho que ela poderia ter se saído melhor se tivesse envolvido mais os personagens neste contexto, não apenas mencionando o que passava na TV em dado momento ou o que as pessoas estavam comentando nas ruas. Só vemos algo um pouco mais relevante próximo ao final do livro, e ainda assim não de forma decisória. Ver fatos históricos sendo abordados num livro sem o devido aprofundamento sempre acaba me deixando um tanto incomodada.

Muhammadu Buhari
Em 1983 a Nigéria sofreu um golpe de Estado que depôs o presidente democraticamente eleito Shehu Shagari e deu poder ao militar Muhammadu Buhari (de óculos escuros na foto acima). Imagem: WILLIAM CAMPBELL/BBC

PERSONAGENS


Fique comigo, apesar de girar em torno das vivências de um casal, trouxe uma diversidade imensa de personagens. Yejide se mostrou uma mulher forte, batalhadora, determinada e teimosa: uma receita de sucesso para uma boa protagonista. Eu gostaria de ter visto mais do Akin: apesar de alguns capítulos abordarem o seu ponto de vista, fiquei curiosa para entender melhor suas peculiaridades. Mas para mim a lição que ele deixou foi a de que não ser o modelo padrão de homem dentro de uma cultura nem sempre significa que este homem será capaz de transcender pressões sociais.
Os personagens coadjuvantes também tiveram o seu peso na história. Destaco duas: a sogra de Yejide, que me indignou diversas vezes com a sua falta de sensibilidade; e Iya Bolu, mulher complicada que acaba se tornando parte da rede de apoio de Yejide, e que na minha opinião foi a personagem mais divertida no meio dessa obra tão repleta de sofrimento.

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Ao mesmo tempo que me surpreendeu em diversos aspectos, Fique comigo trouxe ainda alguns clichês que me incomodaram. Talvez o fato de ter lido outras obras que retratem maternidade/infertilidade recentemente me trouxe essa sensação, pois pode ser que essas temáticas não permitam reviravoltas tão diferentes Mas o fato de ter passado dias pensando a respeito da história já demonstra que a Ayòbámi Adébáyò veio para mostrar que a sua escrita é capaz de mexer com a gente. Já quero ler mais trabalhos dela!


ISBN: 978-85-9508-319-6
Editora: Harper Collins/TAG 
Nota: 4/5⭐

16 Comentários

  1. Acredito que quando uma história mexe com a gente e nos faz ficar pensando sobre ela, seja boa ou ruim, ela deu certo!
    Gosto muito do tema abordado e principalmente de ser escrito por uma Nigeriana e se passar na Nigéria. Afinal, tem muitas coisas que a gente sabe que acontece, mas acredito que ler uma história assim faz com que a gente entenda um pouco melhor a cultura daquele povo, e isso é incrível!

    Estante da Pipoca

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    1. É bem isso mesmo, Vitória! Achei bem interessante o que foi abordado no livro, tanto que fui pesquisar mais sobre a história. Agora quero ler mais obras que se passem na Nigéria!

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  2. Concordo com o que a Vitória falou, já li textos que mesmo sendo super chatos de ler me fizeram pensar bastante sobre a temática abordada.
    e a máxima "o que tá ruim pode sempre piorar." sempre levei pra minha vida xP

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    1. hehehe, tem texto que até nos traumatiza, né? Tenho uns que li na faculdade e não esqueço mais!

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  3. Caramba, esse livro parece mesmo ser bem interessante. Gostei da história, bem diferente dos livros atuais e a fluidez da escrita parece ser muito boa.
    Adorei a resenha ♥

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    1. Fico feliz que tenha gostado, Rafaela <3 É bem uma leitura muito interessante.

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  4. Menina, eu fiquei muito curiosa pra ler!! Já sei que vou chorar e ficar com raiva, mas que também vou amar a história haha Amei a resenha!

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    1. A história é um mix de emoções mesmo! Acho que você vai gostar <3

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  5. Primeiro, não consegui pronunciar o nome da autora de jeito nenhum, como se pronuncia? Segundo, nunca li nada ambientado na nigéria e por isso mesmo conheço pouco dos costumes então fiquei bem interessada na história pq parece que na época era a realidade de muitas mulheres (e pelo que entendi ainda hoje tbm). Achei bem legal a capa.

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    1. Eu pronuncio de um jeito bem intuitivo mesmo, mas não sei se é o certo, hehe

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  6. Acredita que é a primeira vez que vejo falar da autora Ayòbámi Adébáyò e desse livro. Gosto de me aventurar em livros que mostram uma realidade diferente da nossa, assim como descobrir novos autores. Fiquei curiosa pela trama irei procurar depois para saber mais. Obrigada pela dica!

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    1. Fico feliz que você tenha conhecido ela através do blog então <3

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  7. Quando vi a primeira foto do livro, de cara, achei a capa linda! Depois, lendo sua sinopse e descobrindo o plot da história, passei a achar não só bonita, mas forte. Que escolha certeira, e ao mesmo tempo simples!
    Acho bem legal que o mercado brasileiro esteja se abrindo pra escritoras nigerianas, já que elas vivem em um dos países mais sexistas do mundo! Discutir suas pressões e injustiças sociais é importante demais... Uma pena que a autora não tenha abordado tão afundo o contexto histórico da obra, seria bem legal - não conheço quase nada da história da Nigéria - mas só de falar sobre problemas matrimoniais e matriarcais já é forte, né? Fiquei curiosa!

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  8. O tema é bem interessante, é algo que faz parte do mundo mas no Brasil a gente desconhece, é bom ver culturas diferentes, entender como são as coisas em um país tão diferente do nosso. Muito bom o post, parabéns

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  9. Sou doida para ler esse livro a muito tempo! Queria tanto ter a sorte de encontrar essa versão lindinha da tag em um sebo, como você... mas acho difícil. Depois que comecei a entender a importância de ler mais livros de países diferentes e de autoras mulheres e negras, minha lista ficou enorme e esse livro está nela. Uma pena que essa obra não se aprofunde nos fatos ocorridos no contexto histórico na qual foi escrita e que você tenha ficado com com a impressão que os fatos foram simplesmente jogados na narrativa, sem desenvolvimento. A autora pecou nisso, afinal aprofundar no contexto histórico real seria uma ótima oportunidade de levar mais informação sobre a Nigéria para os leitores e despertar o interesse deles para pesquisarem mais sobre o país, além de incrementar e enriquecer a história do livro. Ainda quero muito ler para tirar minhas conclusões, mas agora eu já sei o que esperar. E sobre os clichês que te incomodaram sobre infertilidade, como eu só li um livro sobre isso, provavelmente será mais tranquilo para mim nesse aspecto.

    Au revoir ♡
    Tecer Flores e Cheirar Livros

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