A menina da montanha é um daqueles livros difíceis de ler e ainda mais difíceis de parar de ler. Não é uma leitura difícil por sua linguagem: a escrita é fluída e bem estruturada. O que o torna difícil é a sua realidade, é saber que o que você está lendo realmente aconteceu. Acho que isso é uma forte característica dos livos de não ficção, e este representa esse elemento muito bem.
SINOPSE
Tara Westover tinha 17 anos quando pisou pela primeira vez em uma sala de aula. Nascida nas montanhas de Idaho, Estados Unidos, era a caçula de sete irmãos. Guiados pelo fanatismo do pai, todos estavam sempre se preparando para o fim do mundo, estocando conservas e dormindo com uma mala pronta para o caso de fuga. No verão, ajudava a mãe, parteira e curandeira, a fazer remédios medicinais. No inverno, coletava sucata com o pai. Além do sistema de ensino, seu pai também desconfiava dos hospitais, por isso Tara jamais viu um médico durante a infância. Cortes, machucados e até mesmo graves queimaduras eram todos tratados em casa. A família estava tão isolada da sociedade que não havia ninguém para garantir que as crianças recebessem educação, nem para intervir nos casos de violência. No entanto, quando um de seus irmãos conseguiu entrar para a faculdade e retornou com notícias do mundo além da montanha, Tara resolveu tentar um novo tipo de vida. Aprendeu matemática, gramática e ciências para prestar o vestibular, e foi admitida na Universidade Brigham Young. Sua busca pelo conhecimento a transformou, fazendo-a atravessar oceanos e continentes, até chegar às universidades de Harvard e Cambridge, na Inglaterra. Foi quando se deu conta de quão longe tinha viajado, e se perguntou se ainda existiria um caminho de volta para casa. A menina da montanha é um relato autobiográfico sobre a busca de uma nova identidade. É um conto sobre lealdade familiar e sobre o luto de romper estes laços. Com a intensa sensibilidade que distingue os grandes escritores, Tara Westover nos oferece uma história universal que resume o sentido da palavra educação: a perspectiva de ver a vida com novos olhos, e a vontade de mudar.
A história de Tara começa de onde ela lembra. O livro reúne vários relatos que aos poucos vão mostrando a realidade de sua família, com o seu pai lunático, uma mãe confusa e vários irmãos que lidam de diferentes formas com esse convívio. A infância de Tara foi muito além da convivência com um pai fanático religioso. Foi infância de privações: nada de escola ou hospitais, e pouquíssimo convívio com o mundo além vilarejo da montanha onde vivia.
Eu sempre soube que meu pai acreditava num deus diferente. Quando criança, eu tinha consciência de que, embora minha família frequentasse a mesma igreja que todos na cidade, nossa religião não era a mesma. Eles acreditavam na decência; nós a praticávamos. Eles acreditavam no poder de Deus para a cura; nós deixávamos nossas feridas na mão Dele. Eles acreditavam na preparação para a Segunda Vinda; nós já estávamos efetivamente preparados." p. 172
Gostaria de lembrar o disclaimer que Tara faz logo no início: este não é um livro sobre mormonismo. Consegui enxergar isso quando percebi que o seu pai não é apenas um fanático religioso: ele realmente tem algum outro problema, ou vários outros. Em certo ponto, Tara entende como um transtorno bipolar. Mas entender o ponto de vista psicológico de seu comportamento não é o objetivo do livro ou desta resenha.
A questão é que os relatos da vida de Tara vão ficando cada vez mais absurdos. São histórias de violência e negligência, de seus pais e de seus irmãos. Além da privação do acesso a saúde e educação, o livro evoca a problemática do trabalho infantil, pois desde cedo todos as crianças da família Westover trabalharam no ferro velho do pai.
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Algo que achei interessante foi como Tara tenta amenizar algumas memórias, justificar os fatos, mesmo no fundo sabendo que não dá pra justificar. Ela se questiona, pensa: "será que foi assim mesmo?". Deve ser mesmo difícil admitir certas coisas pelas quais ela passou. Mas o momento em que ela se liberta e busca ter autonomia é magnífico.
Não é spoiler dizer que em certo ponto Tara enfrenta os pais e busca a educação formal. Está estampado na capa que ela pisou numa sala de aula pela primeira vez aos 17 anos, e o seu ingresso na faculdade trouxe grandes choques de realidade, como por exemplo o fato de ela nunca ter ouvido falar em Holocausto. Ali, Tara descobriu um outro mundo, nem sempre tão bom assim. Aprendeu sobre a história da humanidade e decidiu que essa seria a sua área de estudos.
É difícil falar sobre este livro, dar muitos detalhes sobre esta história. Só o que faço é recomendar que leiam; tenho feito isso com várias pessoas desde que finalizei a leitura. Não é um livro perfeito: encontrei alguns problemas na narrativa que me deixaram meio incrédula, e há muita gente por aí afirmando que alguns pontos da história são ficção (encontrei algumas dessas opiniões na página do livro no goodreads). Acho também que ela poderia ter falado mais sobre alguns pontos, como quando viajou para Cambridge e não retratou a reação de sua família. Fiquei tipo "ué, foi tão fácil assim?".
Mas tem algo que sempre me faz ter certeza de que realmente gostei de um livro: quando fico pensando nele por semanas. Me interessei tanto que comecei a procurar entrevistas com a Tara, matérias e premiações que o livro recebeu. Aproveito para me despedir deixando aqui um dos vídeos mais famosos com ela, que foi publicado no canal do Bill Gates.
ISBN: 978-85-325-3122-3
Editora: Rocco
As vezes gosto de encarar a realidade de um livro não-ficção, já anotei o titulo do livro pra ler depois
ResponderExcluirBeijos ♡ Blog | Instagram | Youtube
Estou buscando cada vez mais ler livros deste tipo!
Excluirpreciso ler mais livros de nao ficção que trazem histórias de vida tao interessantes como esse
ResponderExcluirVale muito a pena <3
ExcluirAdoro esse tipo de história, sei que é algo terrível, mas sempre tenho curiosidade, já vi várias histórias parecidas até mesmo satíricas como Umbreakable Kimmy Schmidt. Fiquei bem curioso para saber mais dessa história incrível.
ResponderExcluirEu até entendo o fato dela se questionar se algo realmente aconteceu da forma que aconteceu ou não porque a memória é algo que não dá pra se confiar direito xP
Enfim, ótimo post ;)
Realmente, escrever um livro de memórias assim deve trazer a tona muitas coisas que você nem tem certeza se foram como lembra. E teu comentário me deixou com saudades de assistir Kimmy!
ExcluirAdoro livros assim. Não ficção. Anotado na listinha. E parabéns pela sinopse.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado da resenha <3
ExcluirNunca li esse livro, mas achei bem interessante
ResponderExcluirObg pela resenha :)
Que bom que gostou, Ingrid! <3
ExcluirBem famosa mesmo. Nunca li mas gostei bastante da entrevista, parece ser a obra!
ResponderExcluirEu amo essa entrevista <3
ExcluirParece ser bem legal!
ResponderExcluirNossa! Difícil imaginar que uma criança viveu neste contexto, né? Doloroso mesmo! Que bom que a Tara conseguiu superar e se reconstruir. Parece um ótimo livro! Obrigada pela dica!
ResponderExcluirMesmo com muitas marcas deixadas pelo que ela passou, é mesmo incrível ela ter reconstruído a vida dessa forma <3
ExcluirJá vai ser minha próxima leitura. História muito interessante.A resenha bem feita estimula a conhecer a história urgentekkkk parabéns👏🏼👏🏼Beijinhos 😘😘
ResponderExcluirAi, que bom saber disso! Volta depois pra em contar o que achou <3
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