Costumo pensar que a leitura pode nos trazer diversas coisas diferentes, dependendo do que você lê. Leitura pode ser diversão, lazer. Pode ser um meio de se manter informado, seja visitando o passado ou aprendendo sobre o presente. Leitura pode trazer conhecimento. No caso do livro que irei apresentar a vocês hoje, senti que ele me trouxe uma nova forma de pensar sobre uma temática que permeia muito as discussões contemporâneas: as drogas. E é com essa introdução que trago hoje ao Janela Literária o livro Guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial, da autora Daniela Ferrugem.
SINOPSE: Se a guerra é contra as drogas, por que a letalidade dessa guerra se mostra esmagadoramente maior com relação às pessoas negras? Por que os negros representam grande parte das pessoas no regime carcerário brasileiro? O livro problematiza a política “proibicionista” sobre drogas brasileira assumindo que não é possível fazer uma análise sobre a guerra às drogas apartada das relações sociais brasileiras que foram conformadas pela escravidão, expropriação, desigualdade social, racismo estrutural e o ódio de classes. A partir de reflexões desde uma perspectiva antiproibicionista e antirracista, ancorando-se na sociologia, na psicologia social, na criminologia crítica e no serviço social para aportar às análises e ponderações.A morte sistemática de jovens negros precisa ser reconhecida enquanto um genocídio da juventude negra, esse é o passo inicial para seu enfrentamento. “Guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial” diz respeito a todos que sonham e lutam por uma sociedade mais justa e igualitária.
O livro, publicado pela Editora Letramento, é fruto da dissertação de mestrado da autora, que é assistente social e pesquisadora da temática. Logo em sua introdução, a autora já relaciona a discussão sobre a guerra às drogas e a segregação racial - relação essa que permeia todo o livro.
Uma vez que a guerra está em curso, como todas, tem um inimigo a combater e, neste caso, é o jovem negro de periferia." p. 17
A autora discute as substâncias e os usos das drogas, chegando a fazer um apanhado histórico da presença delas no Brasil. Vemos nesta análise a presença constante da mídia e do consumo, e vemos como a proibição ou autorização deste consumo são na verdade escolhas políticas. Neste ponto, me chamou a atenção também o que a autora escreveu a respeito da visão da sociedade sobre o usuário, que tem muitas vezes a sua subjetividade negada e são extremamente estigmatizados dentro do contexto do tráfico.
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Trazendo uma análise que parte desde a escravidão e discute o contexto do racismo hoje, a autora fala sobre igualdade social e a luta dos movimentos sociais no Brasil. Trazendo dados da estatística, trabalhos acadêmicos a respeito do tema e até mesmo músicas que refletem a realidade de preconceito existente no país, Daniela conseguiu mostrar o que o seu título propõe: que a guerra às drogas está aí para manter a hierarquia racial existente no Brasil, perpetuando estigmas e dificultando a luta da população negra e de ativistas por igualdade. A precariedade das leis e os dados revelados pelas pesquisas só reforçam isso.
A lei, ao distinguir usuário de traficante sem determinar objetivamente critérios para essa distinção, relegou à avaliação subjetiva os agentes de segurança esta questão. Se o racismo é institucional, ele alicerça as instituições, o aparelho repressor do Estado não poderia ficar alheio." p. 108
A miséria trouxe o crack ou o crack trouxe a miséria? Esta é uma das perguntas que a autora faz em seu texto, trazendo uma reflexão sobre a ausência de direitos e garantias das populações que mais sofrem nessa guerra às drogas. A partir dessas reflexões vamos chegando, junto com a autora, a algumas conclusões inevitáveis.
A confluência entre racismo, xenofobia, moralismo e interesses do capital está na base da sustentação da guerra às drogas." p. 47
Pensando no contexto internacional, essas conclusões também fazem sentido. Vi recentemente um documentário chamado Baseado em fatos raciais, disponível na Netflix, que confirma muitas das teses da Daniela Ferrugem, porém no contexto norte americano. Apesar de ter suas peculiaridades, a guerra às drogas que também se instaurou nos EUA tem muitas características semelhantes ao que ocorreu no Brasil. Dentro deste debate, também gostaria de recomendar o documentário "A 13º emenda", que analisa a correlação entre a criminalização da população negra nos EUA e o boom do sistema prisional do país.
Mas se o seu interesse é conhecer a fundo a guerra às drogas que acontece hoje no nosso país, eu recomendo muito a leitura da obra da Daniela Ferrugem. No livro tem muito mais do que eu trouxe na resenha, então vale a pena dar uma conferida.
ISBN: 978-85-9530-206-8
Esta leitura fez parte do projeto #EstanteZero
adorei conhecer esse livro! a leitura pode mesmo nos fazer pensar em mts aspectos da nossa sociedade como esse
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Lívia!
ExcluirNunca li esse livro, mais adorei sua matéria, vou ver se acho para ler também.
ResponderExcluirBeijos!
É um livro bastante interessante já que fala sobre as drogas, um assunto que mexe muito nos dias de hoje, é um livro que vale a pena ler bjs.
ResponderExcluirVale muito a pena mesmo!
ExcluirEsse é um tema polêmico. Desigualdade social, racismo infelizmente existem e ainda vão existir. Quanto as drogas sou a favor da descriminalização da maconha 0/
ResponderExcluirTemas polêmicos precisam ser discutidos! O importante é que não haja tabu sobre eles.
ExcluirObrigado por me apresentar a resenha desse livro... ele é muito necessário!!! Adorei a resenha e pretendo ler ele logo
ResponderExcluirEu que agradeço pela sua visita, Janaína! Espero que aprecie a leitura.
ExcluirAchei bem interessante a temática desse livro e fiquei curiosa para ler. Por mais que eu tenha conseguido ter uma ideia do assunto do livro pela sua resenha, quero muito ver o ponto de vista da autora e como ela trabalha esse assunto no livro...
ResponderExcluirComo eu disse ali no final, o livro traz muito mais do que o que eu comentei na resenha! Vale muito a pena ler <3
ExcluirMulher eu tô tão ansiosa agora pra ler esse livro.
ResponderExcluirPerfeito as discussões que o livro propõe, falar sobre preconceito, igualdade, drogas, é algo que precisamos, pois conhecimento é poder.
Siim, conhecimento é poder!
ExcluirAh esse tema...tão necessário. Minha família já viveu esse drama tendo um querido sofrendo nesse meio, graças a Deus recuperado. Obrigada pela indicação, quero muito ler esse livro.
ResponderExcluirEste é um tema muito necessário mesmo, Isabel. Fico feliz que tenha gostado da indicação!
ExcluirEu amei a tua introdução, a tua escrita não é monótona, é dinâmica e me prendeu. E sobre o livro, não conhecia e fiquei muito surpresa sobre a sinopse, não são todas as pessoas que lêem livros como esse. Fiquei com vontade de ler. Beijo
ResponderExcluirAh Nati, muito obrigada <3
ExcluirMulher, você conseguiu me gerar curiosidade. Acredita? Fiquei com vontade de ler e olha que nem é muito o meu estilo de leitura...
ResponderExcluirNunca ouvi falar desse livro, mas ja fiquei curiosa
ResponderExcluirSua resenha esta boa!
Amei tua resenha e a indicação do livro. Como Assistente Social eu também percebo de uma forma muito clara o quanto o combate às drogas está voltado, quase que exclusivamente, para a população negra e mais pobre do país. Infelizmente este é um estigma que a gente precisa lutar diariamente para desmistificar.
ResponderExcluirParabéns pelo post!
que bacana esse livro, bem realista com sua abordagem! Gostei
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