Resenha: Deuses Americanos (Neil Gaiman)

Após ter lido O oceano no fim do caminho, decidi me dedicar à leitura de outros livros do Neil Gaiman. Coloquei Deuses Americanos na minha wishlist e acabei ganhando de aniversário do Higor  no ano passado (obrigada, amigo!). Procrastinei um pouco a leitura por ser um livro grande e de uma temática um pouco diferente da que estou acostumada, mas acabei decidindo iniciá-lo no mês de janeiro. 

Para incentivar ainda mais essa leitura, acabei criando um pequeno grupo no Instagram para uma leitura conjunta da obra. Foi uma experiência bem legal, e adorei ter pessoas para conversar a respeito da história. Irei com certeza fazer isto mais vezes! Mas bem, vamos à resenha.

SINOPSE: A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.
Depois de apostas, brigas e um pouco de hidromel, Shadow aceita trabalhar para Wednesday e embarca em uma viagem tumultuada e reveladora por cidades inusitadas dos Estados Unidos, um país tão estranho para Shadow quanto para Gaiman. É nesses encontros e desencontros que o protagonista se depara com os deuses - os antigos (que chegaram ao Novo Mundo junto dos imigrantes) e os modernos (o dinheiro, a televisão, a tecnologia, as drogas) -, que estão se preparando para uma guerra que ninguém viu, mas que já começou. O motivo? O poder de não ser esquecido. 

O livro é divido em 4 partes, e cada uma delas se encaixa muito bem. Curti muito o Shadow, protagonista da história, apesar de me sentir um pouco incomodada com o fato de ele ser um cara tranquilão demais. Exageradamente tranquilo. O mundo tá caindo aos pedaços e ele fica lá de boas. Mas ele é um cara legal, que faz você torcer por ele. Por outro lado, temos Wednesday: um dos primeiros contatos após Shadow sair de seus longos 3 anos da prisão, o velho senhor tem um ar misterioso, mas com uma pitada cômica. Com sua esposa morta e o futuro incerto, Shadow acaba aceitando um trabalho de condições estranhas oferecido por Wednesday. E é aí que as aventuras fabulosas - com um estilo que só Gaiman sabe escrever - começam.

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O livro é repleto de detalhes interessantes. Cada capítulo se inicia com uma citação, e cada personagem parece possuir uma história surpreendente e esquisita. A cada novo lugar visitado por Shadow vemos o personagem crescer, aprendendo com as pessoas a sua volta - muitas delas deuses, novos e antigos - e até mesmo com as desgraças que vão acontecendo. 

Alguns elementos me incomodaram no enredo, e eu diria que o principal foi a ausência de personagens mulheres interessantes e a extrema sexualização da figura feminina. Não que o autor fosse obrigado a inserir personagens mulheres no enredo; mas sinto que muitas das que apareceram pontualmente na história poderiam ter sido melhor exploradas, desenvolvidas, e teriam a capacidade de desempenhar um papel mais importante dentro da história. Essa é a minha principal crítica à obra.

Voltando a falar sobre elementos interessantes que foram inseridos na obra pelo autor, me chamaram atenção os trechos intitulados "Vinda à América". Eles são dispostos nos finais de alguns capítulos, e contam histórias sobre como deuses e crenças de diversos lugares do mundo teriam chegado no continente americano. Apesar de se tratar de ficção, aprendi muito com esses trechos e me impactei bastante com algumas narrativas, como o retrato chocante de um navio negreiro carregado de escravos forçados a trabalhar no novo mundo. Essas pequenas histórias trouxeram um quê a mais à obra do autor.

A parte dois, intitulada "Ainsel, eu mesmo", foi com certeza a minha favorita. Amei os cenários dessa parte e me encantei com a cidade de Lakeside, que me lembrou muito Stars Hollow, da série Gilmore Girls. Essa parte foi, para mim, a mais gostosa de ler. Fiquei com vontade de ficar ali pra sempre, lendo sobre as histórias locais, as feiras de livros e o inverno gelado.
O sucesso desta obra rendeu uma adaptação para a televisão realizada pelo canal Starz. A série teve a sua primeira temporada lançada em 2017 e está disponível no serviço de streaming Amazon Prime. Confira o trailer:

Cheguei a começar a assistir o primeiro episódio da série, mas admito que não curti muito. Não consegui enxergar os personagens nos atores escolhidos para a adaptação, e achei os efeitos visuais bem chinfrins. Mas como vi muito pouco, darei uma chance à série mais para a frente.

Neil Gaiman fez um ótimo trabalho com essa obra. Apesar das críticas que fiz, continuo muito interessada no autor, e planejo ler mais de suas produções. Quanto a esta edição publicada pela Editora Intrínseca, eu diria que achei impecável. Repleta de textos adicionais, comentários de tradução e um ótimo texto de introdução, foi publicada sob o rótulo de edição preferida do autor. Recomendo muito o livro a quem está procurando uma leitura repleta de fantasia, aventuras e reviravoltas.

ISBN: 978-85-510-0072-4 | Editora: Intrínseca | Nota: 4/5 | Páginas: 574

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